O fundador e director executivo da Friends of Angola, Florindo Chivucute, afirmou numa entrevista concedida à DW, que o MPLA, partido que governa Angola desde 1975, “teme perder o poder” caso venham a ser realizadas as eleições autárquicas no país.
Num tema levantado pelo órgão sobre o motivo de o MPLA continuar a adiar as eleições autárquicas, Florindo Chivucute entende haver alguma “falta de vontade política”, razão pela qual o partido governante teme perder e partilhar o poder com os outros partidos políticos. Ele apontou os resultados de 2022 como prova, segundo, uma grande parte dos angolanos tem uma preferência diferente do MPLA.
“O MPLA está a perder popularidade de forma significativa e, no entanto, a implementação das autarquias significaria a perda de muitos territórios, ou seja, províncias, municípios e distritos, e a partilha do poder com a oposição e, por conseguinte, a perda do controlo na totalidade do poder político em Angola”, disse, justificando ser esta a razão que o Presidente João Lourenço não conseguiu, até o momento, pelo menos, honrar o que prometeu.
Chivucute alega que não faz sentido as justificações dadas pelo Governo sobre os sucessivos adiamentos da realização das eleições autárquicas no país, por falta de infraestruturas e questões legislativas. O responsável pela Friends of Angola esclarece que o objectivo das autarquias é desenvolver as províncias, os municípios, a nível local, sobretudo aqueles que se encontram mais longe da capital das províncias.
Muitas delas, segundo disse, em quase todo o país, continuam subdesenvolvidas sem escolas para o ensino primário, para não falar de universidades, de acesso a água potável, à eletricidade, aos serviços básicos e aos serviços de saúde. No entanto, através das eleições autárquicas, os municípios poderão beneficiar da criação dessas infraestruturas e serviços básicos a curto prazo.
“O argumento de que não é possível implementar as autarquias pela falta de infraestruturas é um argumento sem base nenhuma. É um argumento inválido, por outras palavras, porque é o contrário. As autarquias são exactamente para desenvolver estes trabalhos”, indicou o líder da Friends of Angola.
Chivucute reforça afirmando que a confiança dos angolanos em relação ao partido no poder e ao processo político diminuiu significativamente, lembrando que houve um número muito grande de abstenção nas últimas eleições nacional que teve lugar em 2022. Portanto, concluiu que os angolanos, em geral, já compreenderam que para que haja desenvolvimento a nível local, é preciso que tenham algo a dizer na eleição de quem irá governar o seu município, “infelizmente, não tem sido o caso”.