O assédio moral e sexual no local de trabalho continua a ser uma prática muito frequente em Angola, independentemente da idade, nível escolar, posição social, económica, onde a principal vítima é a mulher.
Especialistas apontam factores como a pobreza, o insucesso escolar, o desemprego, o baixo salário, a prostituição, e a decomposição social das famílias, como as principais causas deste fenómeno.
A jovem Deolinda é um dos exemplos de mulheres vítimas de assédio sexual no local de trabalho. A mesma que preferiu não revelar a sua identidade, por motivo de preservação da sua dignidade, confessou à nossa reportagem que se envolveu sexualmente com o seu patrão em troca de um melhor emprego.
Tudo aconteceu em 2021, após ter arranjado um trabalho como lavadeira a casa de um cidadão maliano, no Hoji-Ya-Henda. O mesmo é dono de dois armazéns, um de venda de roupas, e outro de electrodomésticos, no referido bairro.
“Certo dia ele propôs-me um melhor emprego em um dos seus armazéns, onde trabalho até hoje. Eu não tive outra escolha senão aceitar a proposta dele. Tudo que eu queria era só ter um emprego e um salário normal, que me permitisse sustentar a mim e os meus dois filhos”, revelou Deolinda com um semblante cabisbaixa, tendo admitido que ainda sente os efeitos do que aconteceu há quase quatro anos.
Deolinda denuncia que histórias do género como a sua, são frequentes nos armazéns do Hoji-ya-Henda, onde as empregadas são aliciadas pelos patrões, em troca de favores sexuais. E exemplificou o caso de uma amiga: “ela ficou grávida com o gerente e não foi assumida, porque ele fugiu para o seu país, no Mali, depois de ter sido informado sobre a ocorrência pela mesma”.
O sociólogo Alberto da Cruz sublinha que o assédio moral e sexual envolve mulheres e homens com diferentes estatutos e posições sociais, o que torna mais complexa a classificação dos perfis das vítimas e dos seus agressores. Por isso, há que fazer entrar em jogo diversas variáveis como estado civil, idade, o nível de escolaridade, a situação conjugal e profissional, a cultura dos contextos organizacionais, e não só.
“O assédio sexual partilha, de igual modo, com as restantes formas de violência contra as mulheres. Cedendo ou não à esta prática, as mulheres correm sempre o risco de serem despromovidas, demitidas ou de lhes serem negadas as condições básicas necessárias para efectuarem seu trabalho”, observou a fonte.
Da Cruz defende a necessidade de se criar campanhas de sensibilização, de modo a incentivar a denúncia por parte das vítimas. “Claramente, muitas mulheres desconhecem onde podem se dirigir quando são vítimas de assédio sexual, pois os casos desta natureza têm sido tratados no Serviço de Investigação Criminal e no IGT, que é a Inspecçao Geral do Trabalho”, concluiu.
Num inquérito associado a vários componentes, o IGT aponta o assédio moral e sexual no trabalho, como das práticas mais infraccionadas. O inquérito que foi apresentado esta semana durante o balanço da segunda fase da “Operação Trabalho Digno”, salienta que foram inqueridos um total de 4.900 trabalhadores maioritariamente nas províncias de Cabinda, Benguelea, Bié, Cunene, Cuanza-Norte, Huambo, Huíla, Luanda, Lunda-Norte, Malanje e Zaire.